“Devem aplicar-se medidas punitivas contra (Vladimir) Putin” e não medidas que possam ser entendidas pelo povo russo como contrárias àqueles que são os valores europeus, afirmou o também antigo ministro-adjunto da Energia da Rússia, em entrevista à Lusa.

As sanções económicas, nomeadamente na área da energia, estão a ter efeitos, garante o opositor russo, que vê nas contas dos últimos meses as dificuldades que o regime de Putin já está a enfrentar.

“As receitas da venda de gás em julho caíram 22%, mesmo com um aumento do preço de 9%”, segundo os dados de que dispõe o opositor do Kremlin.

A Rússia continua a ter que tirar gás, que não vende, das jazidas e que por isso depois queima, como foi já constatado e noticiado, o que tem “custos enormes”, além de que os mercados alternativos, ou seja substituir clientes europeus por asiáticos, tem também custos logísticos e de transporte agravados, a par de “venda a desconto”, porque esses países sabem que as empresas russas não têm alternativa.

“As sanções estão a funcionar sim”, mas é preciso “não ter receios e termos paciência”, afirmou Vladimir Milov em entrevista à Lusa em Lisboa, onde participou nas Conferências do Estoril.

A estratégia de Putin, diz, é precisamente tentar criar uma crise com o aproximar do inverno, ameaçando a Europa com falta de gás e petróleo, mas “a Europa tem de manter-se firme”.

Como especialista em energia, Vladimir Milov vê também a oportunidade de a Europa substituir todo o gás que deixou de importar da Rússia e caminhar para energias alternativas.

“Tudo isto vai acelerar a transição para as energias ‘verdes’” que são “mais geradoras de emprego” do que a indústria de hidrocarbonetos, além de garantirem uma maior distribuição do valor gerado, antevê o antigo ministro-adjunto da Energia russo.

O caminho a seguir, defende, é construir mais parques solares ou eólicos, conseguir maiores eficiências energéticas — em casas, edifícios e fábricas – juntamente com a implantação de tecnologias novas (eólicas, solares e outras).

Quanto a ações contra a Rússia como dificultar a obtenção de vistos, já aprovada por alguns países e que pode ser adotada a nível da União Europeia, “só dará uma mensagem errada” ao povo da Rússia.

A medida, embora sem grande efeito prático, porque já é muito difícil e caro obter um visto e mais difícil ainda conseguir um voo para fora da Rússia, devido a outras sanções, pode ser vista como uma ação contra os russos em geral e entendida como “eles (europeus) simplesmente não gostam de nós”, o que joga a favor de Putin, sustentou.